Da Cozinha ao Mundo Digital: A Caótica Arte de Gerir Produtos

Gestão de Produtos

Service

Gestão de Produtos

Client

Year

2024

Quando era adolescente, ainda na escola, eu tinha o sonho romântico de ser cozinheiro. Achava que a vida seria sobre criar pratos incríveis e viver uma versão cheia de glamour da gastronomia. Depois de quase me formar na faculadade de Gastronomia e algumas (muitas) desilusões – e talvez algumas queimaduras – me levaram a desistir da profissão. Na verdade, descobri que o mundo da cozinha era menos sobre “arte culinária” e mais sobre gritos, calor insuportável e um bocado de caos.

Recentemente, li “Cozinha Confidencial” do Anthony Bourdain, um clássico para os amantes da cozinha, que sigo sendo, mas ainda não tinha tido a oportunidade de saborear essa leitura. A comparação foi inevitável: gestão de produtos digitais é a mesma loucura de uma cozinha profissional. A diferença? Troque o calor do fogão por prazos impossíveis, os cortes de dedo por bugs de última hora, e os críticos culinários por stakeholders sem papas na língua. Porque ser gestor de produtos é basicamente tentar servir um jantar Michelin numa cozinha onde os ingredientes nunca chegam na hora e o fogão parece ter vontade própria. Ah, e os “críticos” (ou seja, os stakeholders) surgem do nada, cheios de opinião, mas sem nunca terem posto a mão na massa.

A verdade é que tanto na cozinha quanto na gestão de produtos, você está ali para fazer algo que agrade a todos – ou que pelo menos não desagrade a ponto de estragarem a sua noite. Enquanto o chef está brigando contra fogo e óleo quente, o gestor de produto enfrenta prazos absurdos, mensagens do time de TI e aquele feedback vago do cliente que te faz pensar: “Eu ainda preciso disso?”. Na cozinha, se o molho desanda, você joga fora e começa de novo. No produto? Uma vez lançado, o molho azedo vai direto para o cliente. E ele? Faz careta e corre para postar uma bela crítica online.

Você pode achar que um roadmap de produto é algo semelhante ao menu perfeito de um jantar, uma sequência lógica e elegante de pratos. Na realidade, ele está mais para o prato do dia – o que conseguimos fazer com o que sobrou no estoque. E enquanto o chef ajusta o tempero, o gestor de produto ajusta os recursos e torce para que ninguém perceba que o resultado não é exatamente o planejado.

O que a cozinha ensina – e a gestão de produtos reforça – é que, no fundo, você precisa de respeito pelo processo, não importa o quão insano ele pareça. Quer fazer um prato memorável ou lançar um produto que valha a pena? Então siga as etapas, mesmo que o fogo esteja alto e as panelas a ponto de explodir. Afinal, apressar as coisas ou cortar caminho só leva a um resultado abaixo do esperado. Criar algo de valor, seja um prato ou um produto digital, exige paciência, comprometimento e a capacidade de aguentar o calor sem perder a compostura.

No fim das contas, o que o chef e o gestor de produto têm em comum é a habilidade de parecer calmos enquanto o mundo está pegando fogo ao redor. Você serve o prato, faz uma oração silenciosa e espera pela crítica, sabendo que, por mais que tenha se esforçado, sempre vai ter alguém para dizer que o molho podia ser um pouco mais picante. E aí você respira fundo, volta para o fogão – ou para a mesa de reuniões – porque, no fundo, é isso que nos faz voltar todos os dias: a ilusão de que o próximo prato, o próximo produto, será aquele que finalmente vai impressionar.